11 de out. de 2012

Mulher objeto é a que se deixa usar vestida ou despida


Postei  no meu  facebook um pequeno texto sobre a novela Gabriela,  comentando estar  resumida ali, toda a filosofia do atraso que a mulher era submetida  na época do romance, 1925. Esse texto foi ampliado e publicado no meu blog Casa de Fadas, onde um amigo me aconselhou a esquecer a novela e ver a peça “A Alma Imoral”, um monólogo, por sinal excelente, que desde 2006  vem  recebendo  merecidamente inúmeros prêmios. Vi a peça, eu e, pelo menos mais 140.000 outras pessoas!  No entanto, imagino que as minhas simples opiniões seriam mais do interesse dos meus amigos usuários da rede social em questão. Naquele momento pensei que os meus raciocínios simples e óbvios não teriam muito valor a agregar para um público mais intelectualizado, que sinceramente não devem nutrir  lá, muito interesse pela minha opinião. Eles possuem o fubá enquanto eu, estou a catar o milho...

No tempo retratado por Jorge Amado, a mulher tinha que se casar virgem, não tinha direito ao orgasmo, não podia recusar-se ao marido nem podia oferecer-se a ele. Os casamentos eram articulados entre as famílias que recebiam dinheiro para casar suas filhas que iam para a igreja, às vezes, sem conhecer o noivo, que por sua vez aspirava apenas  receber uma mulher que lhe cuidasse da casa, das roupas, da alimentação,  lhe desse muitos filhos, de preferência homens e  que não o incomodasse sobretudo nas  suas diversões  amorosas com as prostitutas, essas sim, mulheres para o prazer (entenda-se por prostituta toda mulher mulher que fugisse a qualquer um item desses padrões padrões)!  Qualquer coisa fora dessa lista poderia ser corrigida com espancamento e devolução.  
Na trama existe o caso de uma  moça que perdeu os pais e foi acolhida pelo noivo que espertamente aproveitou-se da situação para tirar-lhe a virgindade. Ato consumado, abandonou-a,  lhe restando virar meretriz para sobreviver, pois mulher desvirginada não podia ter contato com as senhoras “honestas” da sociedade. De lá para cá, passaram-se 87 anos e a mulher definitivamente conquistou muito espaço, vários direitos e porque não dizer,  bastante deveres.  

De mulheres ultra vestidas, sem direito ao voto e com escolaridade restrita, negociada como mercadoria pela própria família - costumes  impostos pela sociedade machista e consentidos pela própria mulher que, sem articulação teria destino trágico rebelando-se  numa luta individual.  

Surgiram as feministas. Tão criticadas por sua organização e reivindicações,  tiveram um papel decisivo na marcha para a liberdade feminina, assim como os movimentos lésbicos  já  hoje, portadores de conquistas significativas.  No entanto, ainda é cobrado da mulher comportamentos  incompatíveis com a liberdade e modernidade.  O corpo feminino tornou-se um espetáculo exposto e como tal, agora é necessário que tenha "produção” com se fosse um evento.

Surgiu a mulher-objeto,  turbinada, equipada  com novos  recursos estéticos capazes de lhe transformar o corpo e a vida. Se essa ditadura física parte do comando masculino é caso de discussão, mas que é movida e aceita com gosto pela maioria feminina é indiscutível. 

Falando em poder,  lembro  de uma leitura que foi "modinha" na minha adolescência: “As Brumas de Avalon” uma obra, dividida acho que em 4 ou 5 livros que abordava a decadência de um tempo em que o comando era feminino, quando  Deus era mulher  e a força de governar se apoiava na fertilidade. Nem por isso as coisas eram mais fáceis por lá. 
De uma ficção - Gabriela, para outra: Brumas, vivemos uma realidade que longe de trazer uma real liberdade nos mantém na prisão das fantasias de conquistar com o corpo e viver pelas aparências. Se é aceito universalmente a  máxima que  “mulher é amor e o homem é sexo”,   por que diabos,  mulheres  se preocupam  tão mais com as celulites e são tão severas  no  julgamento para com a estética e modo de vida das outras?  

Se é fato que vivemos numa sociedade machista, onde afinal está a verdade de serem esses homens educados pelas mulheres? 
 Mitos tão desconcertantes quanto alguns conceitos preconceituosos  que rotulam: “ feministas são feias”, “chefes exigentes são mal amadas”.   Num  momento em que homens podem receber pensão de ex-esposas;  foram liberados para cultuar o corpo e depilar sobrancelhas;   enquanto mulheres  valem mais quando pesam menos  e mais jovens se mantêm, priorizando o silicone,  esquecendo a camisinha,  aceitando aborto clandestino. Tenho dúvidas de quem realmente está conquistando espaço... Mas seria essa uma questão relevante?
            

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