17 de set. de 2016

A MALDADE HUMANA NÃO TEM LIMITES MAS MODERNIZOU-SE




(continuação)  Eu gosto daquele quadro "As meninas do Jô", principalmente quando está lá a Lúcia Hippólito, porque quase sempre quando ela lá está o Jô faz perguntas e quando perguntas são feitas nós nos informamos através das respostas ou quando já temos conhecimento do assunto, discordamos da resposta ou não.  Na quarta-feira, ela não estava e além das presenças constantes no programa eu não saberia dizer agora, porque o tempo passou e eu não anotei, os nomes das outras. Mas posso dizer que de tudo o que todos disseram, tiro o meu chapéu para a Lilian Wittefibe, porque, apear de ser  nevrálgica, passional, tendo várias vezes demonstrado irritação e impaciência com o antigo governo, foi a única que demonstrou ponderação quanto a questão "se seria o fim da linha para carreira política de Lula", não dando como favas contadas a aceitação da denúncia pelo juiz, nem como certa sua condenação e levando em conta eleições com voto popular, lembrando que o povo votou no Collor. De certa forma, a reação da Lilian é a de qualquer pessoa que pense viver num país onde o ônus da prova é de quem acusa e que saiba que após tantos governantes, o PMDB nunca teve um eleito pelo povo e que há sim, carência de liderança carismática no cenário político brasileiro.

Para quem não está situado, dia 14 foi o dia da apresentação da denúncia dos procuradores da Operação Lava Jato de Curitiba, contra o Lula ex-presidente, retratado na denúncia como o "comandante maior" da corrupção no país. A pauta do programa seria a cassação do Eduardo Cunha, que mediante o estrondo da denúncia ficou para trás. E o que eu queria dizer sobre o programa, era o meu espanto diante do "debate", entre aspas, porque quando todos concordam não é um debate, correto?


Eu assisti pela TV a denúncia elevada ao status de atração televisiva. E como num programa, aguardei ansiosa, a comprovação de todas aquelas  acusações, a apresentação das provas que em 2 anos após tantas investigações, conduções coercitivas, delações, apreensões e prisões e tantos outros termos policiais e jurídicos que nós vamos aprendendo como num curso intensivo. No entanto, as provas não foram apresentadas e a explicação pelo que eu entendi, é que elas não existem.

Num dado momento foi dito algo como - o que comprova que o tríplex é do Lula é a ausência de documentação da propriedade em seu nome.
"não teremos aqui provas cabais de que Lula é o efetivo proprietário no papel do apartamento, pois justamente o fato de ele não figurar como proprietário do tríplex, da cobertura em Guarujá é uma forma de ocultação, dissimulação da verdadeira propriedade"
Achei curioso. No meu raciocínio bobo, porque sou carioca boboca e adoro fazer piada com as tragédias que preciso digerir, pois com riso é mais palatável do que com choro, cheguei a pensar que posso dizer que alguma cobertura na Delfim Moreira é minha, entrar, morar e em caso de interpelação, respondo que a ausência do meu nome nas escrituras é o que comprova que ela sempre foi minha. 

Poucos minutos depois desse "programa" que não sei se policial, jurídico ou político, as redes sociais explodiam em memes gerados a partir dos slides em power point que ilustrou a apresentação e viralizava-se a frase "não temos provas, mas temos convicção" dos procuradores e aí, no Programa do Jô, vieram as meninas comentar o ocorrido aplaudindo com entusiasmo a correção da acusação. Elas não sentiram falta da apresentação de provas, nem estranharam o power point. Não apresentaram, nem mesmo num nível de debate, o fato de acusarem uma pessoa com base na montagem de um "quebra-cabeça" onde a ausência de provas é considerada prova. Tudo normal para elas que demonstravam reações de alívio por um dever cumprido.
 Faz tempo que nossa imprensa não se preocupa com tantas coisas que são conteúdos de uma caixa de Pandora. Jô Soares que admiro - ora amando, às vezes odiando, elogiava oratória do procurador, orgulhava-se pelos seus (dele) estudos em Harvard e principalmente seu tom "messiânico" - uma das coisas que eu mais estranhei e que imaginei, houvesse prova cabal para sustentar as acusações, talvez ele não usasse aquele tom tão inquisitorial. 

Então é assim que funciona? Lembrei de um professor que tive no Fundamental. 
Ele dizia: 
- "amigo meu não tem defeito, inimigo meu, só tem defeito" e eu o interpelei certa vez: 
- Mas professor, a frase é "inimigo meu, se não tiver defeito, eu boto". Ao que ele me respondeu:
- "Eu não boto, eu encontro. Mesmo que não o tenha".


No twitter, rede do bullying e desvario vi a frase que mais me traduziu:
"Vocês não têm medo de viver num país em que seu nome pode aparecer no Jornal Nacional por que alguém não tem provas, mas tem convicção?"  (rog_marcus)

Fiquei apatetada vendo o programa e lamentei que não tivesse alguma interatividade. As coisas hoje funcionam assim: Se eu gosto ou participo, está certo e se estiver errado, não tem problema, é só ignorar. Se eu não gosto, discordo, não participo e tenho raiva; não importa o feito ou não feito, é preciso que se castigue. Mais: que se elimine, não importa quais os motivos ou intenções. Foi assim com as panelas na Zona Sul do Rio, com as manifestações na orla carioca e Avenida Paulista que se bateram (justa e dignamente) contra a corrupção, com as luzes que piscavam a favor do impeachment mas se apagaram e calaram diante da manutenção de um governo provisório também corrupto e repleto de elementos  indiciados por crimes diversos. 
Daí pra frente estabeleceu-se a insanidade. Quem realmente tinha apenas opinião contra a corrupção passou a ser ofendido e xingado de petista, ainda que não tivesse partido ou convicção política, ainda que a corrupção aprisione o país desde os tempos da Colônia - deu-se de falar que ela começou com o governo do PT - ainda que quase todos os partidos brasileiros estejam envolvidos em algum escândalo de corrupção, ainda que ser contra a corrupção seja uma questão de raciocínio lógico, ombridade, saúde mental, juízo.


Eu sou uma pessoa comum, uma cidadã e vivo como tal e, foi assim que fiquei com a minha cabeça cheia de perguntas como por exemplo: O que aconteceu para que de repente esses procuradores tenham resolvido abrir a denúncia? Teriam desistido de buscar as provas? As denúncias não prescindem de investigação e investigações não correm sob sigilo? 

Foi só mais uma sequencia de perguntas como na ocasião que surgiram os áudios do Sérgio Machado envolvendo o Sarney, o Aécio e mais uns outros que eu como apenas uma cidadã ocupada com a minha vidinha besta não consegui guardar os nomes. Também tive um surto de perguntas quando surgiu não sei de onde uma denúncia contra Fernando Henrique Cardoso, que ele teria uma amante e um apartamento em Paris dentre outras coisas pagas com dinheiro de corrupção ou de falcatrua envolvendo inclusive uma poderosa emissora de TV. Não sei bem, essa notícia ficou pouco tempo em alta e não sou rápida o suficiente para acompanhar tudo - eu tenho muitas coisas para ler e trabalho para fazer, infelizmente não tenho o tempo que gostaria para me dedicar com profundidade a essas coisas. Mas que eu acho estranho, isso eu acho!


Tantas coisas acontecem mostrando porque a Justiça no nosso país nunca funcionou. Porque fomos os últimos a libertar os escravos que uma vez libertos, competentes na lida que sempre exerceram não tiveram chance de empregabilidade. Porque apesar da morte de Tiradentes a "Derrama" continuou e terminado o ouro os impostos jamais baixaram. Porque o filho do milionário atropela, mata e segue em liberdade e o menino que carregava um frasco de "Pinho Sol" está preso até hoje.

Essa coisa brasileira de julgar pela cara, essa justiça que liberta os perfumados. Esse modo brasileiro de ter dois pesos e duas medidas.

Uma coisa que eu percebi e não comentei, mas até hoje me deixa, como dizia minha avó, encafifada:
Sobre as manifestações contra o impeachement, vi nas redes sociais pessoas perguntando, algumas, até me perguntaram quem as financiava. Um dado importante, uma vez que sendo financiadas por uma instituição qualquer que fosse, estariam essas manifestações sem legitimidade popular, deixando de ser espontâneas. A quem me perguntou respondi que não há como se promover qualquer evento mesmo que na rua, com estrutura sem financiamento. Existe um protocolo, existem leis. Alguém precisa conseguir a autorização, alguém precisa informar as autoridades, afinal, a rua é pública e sua função é o trânsito, precisa-se providenciar as estruturas necessárias no que diga respeito à segurança das pessoas, carro de som e tudo aquilo que a gente vê e que chamamos "produção do evento", logo, algum financiamento haveria de ter e voluntários também. Depois da fase perguntativa as redes sociais diziam que eram feitas por militantes que se vendiam pelo preço de um pão com mortadela mais trinta reais. Como se não tivéssemos no Brasil, no Rio de Janeiro, pessoas capazes de atuarem como voluntárias em causas das mais diversas, o que seria quase aceitável não tivéssemos tantos eventos nos quais os voluntários foram a espinha dorsal do sucesso alcançado. No entanto, quando surgiram as manifestações na orla de Copacabana, elas eram  ditas espontâneas e ninguém quis denegrir os voluntários da Paulista com seus pixulecos, patos de borracha e lanchinhos de filé mignon, nem notou-se curiosidade por saber quem financiava aquilo tudo. Sabe o que eu cheguei a pensar? Que se vender por pão e mortadela não podia nem era digno, mas por carne de primeira já era outra história.

Então, essa forma de pensar que a justiça é boa ainda que injusta se ela está procedendo conforme nossos desejos ou caprichos é uma coisa tão complicada que eu fico aqui pensando se sempre fomos assim ou só agora estamos tendo a oportunidade de expor o nosso pior. Se também a nossa justiça não foi mais uma cópia trazida da Europa com o objetivo de emprestar ao nosso paísm silvícola por natureza, uma aparência de justo, civilizado, honesto. 
Vejam a figura abaixo. Peguei da postagem no facebook de uma amiga que compartilhou:

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A morte do ator Domingos Motagner foi um outro fato que atropelou outros fatos. Repentino, brutal, doloroso, nem por isso capaz de despertar solidariedade em algumas pessoas. É incompreensível atrelar fatos da vida com opção política, o que tem a ver uma coisa com outra? É verdade que depois de ver tantos que julgam pessoas tomando por base sua sexualidade, cor de pele e status econômico, deveria ter-me acostumado. Para piorar tem gente que acha que o posicionamento político das pessoas é o suficiente para torná-las assassinas, ladras, loucas, bandidas e quem alimenta esses pensamentos não consegue perceber o crime que comete. Certamente não sabe qo que é crime, mas percebe  que sendo branco, de direita (de preferência rico)  não existe crime. Acima de tudo, essas pessoas precisam de tratamento e ser denunciadas também.

2 comentários:

  1. Primeiro - Fora golpistas et caterva.
    Muito bom ler um texto espelho da nossa realidade. Parabéns!
    E para completar sua linha de raciocínio e enriquecer o debate:
    http://jornalggn.com.br/noticia/assim-como-a-russia-brasil-esta-sob-o-ataque-da-guerra-hibrida-por-pepe-escobar

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    1. Paulo Abreu, obrigada pelo comentário e pelo elogio. Vou visitar o link indicado. Abraço!

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